O fim da ONU e a ascensão das novas alianças


O Escritório das Nações Unidas em Genebra
Foto de Mathias Reding na Unsplash

O fim da ONU e a ascensão das novas alianças

Não é só o fim da ONU, a Nato, até a União Europeia, puseram-se numa posição em que se arriscam a desaparecer. E entretanto outras novas alianças supra nacionais vão ascendendo.
Mas olhando apenas para a ONU, a organização supra nacional que pretendia regular todos os países do Mundo, que pretendia que não houvessem mais guerras como a Segunda Guerra Mundial. Ingénuos, aqueles que pensaram que algum dia acabariam as guerras.
Tal como há 100 anos, mais um punhado de anitos, quando se criou a Sociedade das Nações, ou mesmo quando os líderes mundiais desculpavam a carnificina a que sujeitavam os rapazes na Primeira Guerra Mundial, ou “A Grande Guerra”, com a expressão, “a guerra para acabar com todas as guerras, ou houve ingenuidade ou fizeram de conta que sim.

A Sociedade das Nações, também com os mesmo objetivos, regular as relações entre os países do Mundo, mesmo que organizada apenas pelos vencedores da Primeira Guerra, tinha boas intenções mas… não evitou o Holocausto, a Segunda Guerra Mundial.
Agora temos a Organização das Nações Unidas, a ONU, que até foi mais bem organizada, intermediou e até ajudou a resolver alguns conflitos, subdividiu-se me organizações que sempre vão ajudando a manter alguma ordem em assuntos como a proteção de crianças, refugiados, Património Cultural – tão mais importante do que imaginamos, é a herança da humanidade. Como seria o Mundo se a Biblioteca de Alexandria não tivesse ardido? Se calhar sabíamos como as pirâmides foram construídas, e de certeza que Piri Reis desenhou aquele mapa com ajuda a alguma coisa que sobrou de lá. Enfim, a ONU, entre tantas outras coisas, ajuda a preservar alguma da nossa herança enquanto Humanidade.
Mas o seu principal papel, o seu “core”, deveria ser manter a Ordem, se não a Paz, pelo menos ajudar a mediar os conflitos, como ia conseguindo fazer ao longo do século passado, algumas vezes pelo menos. Mas não. A ONU é como um Bispo que passou a padre, mas daqueles que andam descalços a mendigar pão para os seus fieis.


A ONU é ignorada, desprezada, quase gozada. Ignoram-se as duas diretivas na Ucrânia, e mesmo assim, aí, conseguiu fazer alguns acordos para que saíssem de lá alguns cereais, e deveria voltar a esse assunto, sempre teve algum sucesso, sempre teve alguma coisa a dizer, e a fazer.

Já no caso de Israel, não é de agora que esta organização é ignorada, mas agora passou mesmo a ser desprezada. Vamos acordar um dia e perceber que a ONU não é necessária, ou vamos achar isso, enquanto povo Mundial. E nesse dia a ONU desapareceu. Mas é importante, é necessária. Quem vai ter o papel de conseguir juntar numa mesma sala todos os países do Mundo? Só isto já é de uma importância abismal, mesmo que olhem de soslaio uns para os outros, olham uns para os outros. Sem a ONU, o Mundo deixa de ter essa sala, passam a ser apenas enviados recados. Como era antes, queremos mesmo andar mais de um século para trás? Muita gente quer, claro, e a maior parte do resto está a caminhar para isso sem se aperceber.
QUe Mundo será sem a ONU. E pode mesmo vir a ser. Espero que não. Abram a pestana!
A NATO e a União Europeia, com esta coisa de se porem a dizer aos ucranianos para lutarem, morrerem, que nós apoiamos, convencidos que vamos derrotar, expulsar a Rússia, foi mesmo arriscar tudo, até a própria sobrevivência. Já não bastava o Brexit, e ainda por cima agora na Alemanha já se fala nisso – a União Europeia sem a Alemanha será como a União Soviética sem a Rússia, não existe, foi assim neste caso, e seria assim no caso da União Europeia.
E ainda se pem de peito feito com um povo que despreza a vida dos seus próprios cidadãos, desde que atinjam os seus objetivos. Nem vou dar ou tirar razão a este ou aquele, mas dizer aos ucranianos que a NATO e a UE apoiam “até ao fim” para expulsar os russos da Ucrânia pode ser uma “até ao fim” da Nato, um “até ao fim” da União Europeia.
E quem fica com força depois? Aqueles que há meia dúzia de anos ninguém conhecia como aliados, e outras organizações que se podem reformar de um modo inimaginável até agora. No primeiro caso, o mais evidente, os BRICS. Quem raio sabia que o Brasil, a Rússia, a China, a Índia (estes dois últimos ainda por cima sempre resmungaram um com o outro) e a África do Sul se andavam a juntar para fazerem uma panelinha? E que bela panelinha. Que deixem de nos vender, já nem digo comprar, algum dia, e nós, os que não são dos BRICS, ficamos às aranhas. E já são uma data de países a juntarem-se a esse novo Bloco.


No Médio Oriente. Ninguém reparou que a China anda a “fazer as pazes” entre a Arábia Saudita e o Irão. Essa inimizade tem garantido que não se forma uma aliança que pode ser tão ou mais perigosa que os BRICS.

Imaginem todos os países Árabes Unidos. Cresci a ver a Guerra Irão-Iraque, e agora já vejo o Iraque nas mãos dos Xiitas ou seja, na mão do Irão. Se o Irão e a Arábia Saudita se tornarem amigos, junte-se-lhe a Indonésia, e fica só a faltar o Paquistão para basicamente estar o caldo entornado. Isto só da parte dos países muçulmanos.
Isto está tudo dito de forma muito simplista, pelo menos no caso dos países Muçulmanos, têm lá as questões dos Xiitas e dos Sunitas, que os Ocidentais têm sabido explorar para que eles vão andando à turra uns com os outros. Mas e se isto muda? Parece já estar a ir mudando. Já tinham essas quezílias nos tempos do grande Império Muçulmano, que chegava aqui à Península Ibérica – e já há uns tolinhos que dizem que querem isto de volta, mas esquecem-se… que somos gente criada pelo Dom Afonso Henriques!
O Mundo não acabará, claro que não, mas está a caminhar para ficar diferente do que todos os que estão vivos no Mundo sempre conheceram. E que pode ficar esquisito pode.
Pelo menos, que se faça por manter a ONU. Essa sala onde todos se sentam. Foi uma das maiores conquistas dos povos mais não seja para se chamarem nomes, para se destratarem. Como uma família grande, que só se junta em casa dos avós em dias de festa e metade passa o tempo a discutir com a outra metade. Mas se não fossem esses dias em que se juntam, a família desaparecia. E não hajam ilusões, podemos não gostar de alguns, ou de outros, mas somos todos os humanos deste planeta, por isso somos uma família, e precisamos da casa dos nossos avós, a ONU.
Espero que saibamos preservar esses almoços de família, mesmo todos a mandar vir uns com os outros. A alternativa é uma família que só manda recados, que deixa de o ser.
Eu gostava muito dos dias de festa, quando os meus avós eram vivos e se juntava a família toda, tenho saudades e sei a falta que fazem!