A cerveja, o biberão da Civilização.

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A Humanidade e a Cerveja

Quando pensamos no início da Humanidade, pensamos nos momentos que levaram à sedentarização das pessoas. Foi graças a ficarem quietinhos sempre no mesmo sítio que as pessoas puderam começar a fazer casas maiores até algumas serem palácios, começaram a ter tempo para fazer mais utensílios com os quais puderam melhorar as suas vidas familiares e sociais.

Existem momentos que definiram a Humanidade, tal como é hoje. Falamos sempre na descoberta (do controlo) do fogo e na invenção da roda, e já por aqui escrevi do rapaz (ou rapariga) que terá inventado a agulha de coser – este com a importância de nos ter permitido sair dos climas quentes. Mais até do que a roda, a agulha é basilar para a humanidade, lembremos de civilizações como as ameríndias que evoluíram sem roda – não o teriam feito sem agulhas de coser.

E isto para referir o facto de existirem injustiças nas memórias coletivas acerca das invenções ou descobertas que efetivamente criaram condições para a Humanidade ter evoluído, tanto que hoje até parece querer substituir Deus.

E uma dessas invenções/descobertas, terá sido, sem dúvida, a da cerveja!

Vejamos, a Humanidade existia de uma maneira enquanto era nómada e, de outra, depois de deixar de o ser, tornando-se sedentária. Pois, o pessoal começa a ter condições para viver no mesmo sítio, ganhar raízes e ter tempo para evoluir, para inventar coisas novas, regras sociais, escrita, e tudo o resto que nos define como diferentes do resto das criaturas que por cá andam.

E a cerveja terá um papel central nisto tudo, segundo alguns estudiosos que têm andado a refletir acerca desta coisa. Alguém que gosta tanto de cerveja que, farto de aturar todos os que lhe diziam diariamente que beber cerveja faz mal e que devia deixar de beber, teve de arranjar maneira de poder afirmar que sem cerveja não existia nada disto. E já são uma data deles, estes referidos estudiosos. Claro que é fácil acreditar que devem existir mesmo muitos estudiosos deste tema!

Mas voltando à génese da cerveja. Então, as pessoas quando eram nómadas, apanhavam os frutos, cereais e outros vegetais com pouca regularidade e apenas de acordo com o que aparecia, não plantavam nada, apenas colhiam, e, principalmente, caçavam. Comia-se muita carne naqueles tempos, e era preciso ir de tantos em tantos dias, em grupo, caçar. Nos dias que não caçavam, colhiam, comiam, e pouco mais. E precisavam de andar continuamente e constantemente à procura de água fresca e corrente, a única potável da altura.

Das coisas que colhiam, algumas eram cereais. Sempre se assumiu que a apanha dos cereais selvagens começou a ser feita de forma sistemática por causa do pão, mas nas últimas décadas tem-se descoberto algumas coisas curiosas. Este exemplo – os vestígios descobertos mais antigos de pão, na Jordânia, têm entre 11 e 14 mil anos, e a “cervejeira” mais antiga do Mundo, em Israel, terá entre 11 e 13 mil anos – quer isto dizer que a cerveja até pode ter aparecido antes do pão, ou pelo menos, são da mesma altura. E sim, claro que naquela região, o “Crescente Fértil”, onde tudo começou. Desta vez pelo menos.

Photo by Food Photographer David Fedulov
A cerveja nas nossas mesas. Desde sempre.

Pão e cerveja, a base da evolução, da civilização. Basilar numa sociedade e, até nos dias de hoje se conhece a sua importância, ou parecido, como podemos ver na nossa versão, em português, os célebres “pão e vinho sobre a mesa”.

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Mas, lá atrás, ainda antes de saberem bem o que andavam a fazer, ainda no tempo dos nómadas, parece que devem ter deixado umas taças cheias de cevada apanhada ali nos terrenos perto de onde tinham o acampamento armado e lá foram caçar. Entretanto deve ter chovido em cima da cevada, e os grãos lá germinaram. Quando chegaram devem ter reparado nas sementes de cevada germinadas, e como naquela altura era tudo às apalpadelas, devem ter dito, “oh, deixa isso ficar assim, vamos ver o que acontece. Vamos caçar mais uns dias que isso deve estar estragado para comer e esquece lá isso.” Voltaram mais uns dias a caçar, pode ter chovido de novo e as sementes germinadas com a água misturada lá começaram a fermentar. Chegados da caça e, ao verem que aquilo estava com um aspeto esquisito, a borbulhar e tudo, lá tiveram curiosidade. Como experimentavam tudo para ver se era venenoso, devem ter tirado à sorte, e lá coube a um artista experimentar a tal bebida esquisita. Não só não era venenoso, como sabia bem. O rapaz ao fim de beber uns bons bocados, inventou as festas! Os restantes, encolheram os ombros e beberam logo o que havia e trataram de ver como iam repetir o processo para fazer mais. Afinal havia tanta coisa boa para se fazer estando quietos no mesmo local. E que bela maneira de se guardarem cereais, mesmo o pão ao fim de uns dias começa a apodrecer. (Sempre existiram desculpas ótimas para se beber cerveja, também não é só de agora!)

Além de que já era possível matar a sede sem ter de mudar de sítio ou sem se ficar doente com água parada e estragada.

A partir daqui a necessidade daquele cereal tornou obrigatório que se replantasse, que se tratassem as terras, que se… sedentarizassem. Nasce a civilização que evoluiu até aos dias de hoje.

Ser alcoólico é mau, facto. Beber cerveja não o é. Facto! Falar bem da cerveja não é falar bem do alcoolismo, assim como falar bem de uma feijoada de leitão não é dizer que a obesidade mórbida faz bem.

A juntar ao facto aqui referido de a cerveja ter uma importância central na Revolução Agrícola, existem outras peculiaridades referentes a esta bebida.

Na Alemanha é chamada de “pão liquido”, o que reflete a importância desta bebida. Os funcionários do Egipto Antigo, nas construções de pirâmides, por exemplo, não eram escravos, eram assalariados, e pagos, em cerveja. Os Descobrimentos, de que tanto nos orgulhamos, foram possíveis, porque se podia carregar os barcos com cerveja para um ano ou dois. A água estragar-se-ia e imagine-se matar a sede a dezenas de marinheiros fechados apenas com vinho… A cerveja matou a sede aos Descobrimentos. Os documentos escritos mais antigos conhecidos, referem transações de e com cerveja. A lista de curiosidades é enorme, refletindo a importância da cerveja.

Foi possível criar a Civilização tal como hoje a conhecemos, porque houve tempo e disposição para isso. E a cerveja ainda consegue isso sim, dar boa disposição é óbvio e o tempo livre não dá, mas por outro lado, quem nunca disse, numa noite a beber cerveja, “até perdi a noção das horas?”

A cerveja. Não foi um berço, foi o biberão da nossa Humanidade!

Tiago Manuel

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2 comentários em “A cerveja, o biberão da Civilização.”

  1. Absolutamente GENIAL !!!!!!!!!!!!!!!
    da próxima vez que beber cerveja, fá-lo-ei com mais respeito!!
    obrigada !! Bravo

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