A arte de bem viver na reforma

Parece mesmo ser uma arte. Para quem a vive e para quem lida com ela.

Existe aquela parte da vida que se chama de reforma. Como se fosse uma compensação por mais de 40 anos, na maior parte dos casos, de trabalho, de pagamentos, esforços feitos. E o espírito na base da aposentação, ou o que normalmente chamamos de reforma até é mais ou menos esse. Seja mais cedo para uns, ou mais tarde para outros, o que parece ser certo é que esta fase da vida dá o direito às pessoas de viverem em sossego, sem terem de se preocupar, uns menos que outros, com o seu rendimento. Estará garantido por essa tal quantidade de mais ou menos 4 décadas de descontos feitos, e pelo resto da sociedade que pretende ter também essa garantia, chegada a sua altura.

Mas também é certo que chegada a altura desse esperado prémio, muitas das pessoas acabam por ficar menos satisfeitas, algumas até mesmo deprimidas – o chamado “choque da entrada na reforma”. Porque será, visto que devia ser quase um prémio, pelo contributo dado duranta a “vida Ativa”, de tantas maneiras? Contribuiu-se não apenas com dinheiro, mas também com acompanhamento social e familiar, com resultados do trabalho. E no entanto, de um dia para o outro, parece que, em vez de se estar a apreciar um prémio, um merecimento, está-se, em alguns casos, a sentir-se quase o oposto, um “castigo”.

Podemos tentar ver isto de diversas partes. Primeiro, a sensação das férias perpétuas. E podemos fazer um exercício mental. Imaginemos se ou quando temos um mês de férias. Começam-se as férias com muita vontade, a apreciar todos os bocadinhos de passeio, de recreio, até de descanso. Mas ao fim de três semanas já se começa a estar aborrecido. Descansar demais também chateia, passear demais também cansa, e andar sempre a fazer “passatempos” acaba por começar a aborrecer. Quando chega a parte de terminarem as férias algumas pessoas até dizem que ainda bem que as férias estão a terminar. E isto começa cedo, eu lembro-me de estar a estudar cheio de vontade que começassem as férias e depois estar, no fim das férias, cheio de vontade que as aulas começassem. O mesmo passa para o trabalho, depois da fase de se ser estudante.

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As nossas memórias. A nossa identidade. Os seus guardiões e depositários.

Photo by sasan rashtipour on Unsplash
Quantas histórias este senhor terá para contar acerca de décadas de batalhas com o mar?

Não podemos dissociar as memórias individuais das memórias coletivas. As segundas dependem do conjunto das primeiras, da comunidade de memórias.

Diz-se que devemos valorizar as memórias, conhecer o nosso passado, para que não cometamos os mesmo erros de novo. Mas julgo ser muito mais do que isto, e isto já é tudo menos pouco.

As memórias são a nossa identidade, quer como indivíduos quer como comunidades, como regiões, como povos e nações.

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Afinal qual é o papel das pessoas mais velhas?

Foto: www.ieam.co.uk

Vivemos um tempo em que começa a ser nítido o envelhecimento dos lugares, sejam cidades ou ambientes rurais, o que significa que a quantidade de pessoas mais velhas está a aumentar, ao que se junta a diminuição do número de pessoas mais novas. Isto implica uma proporção cada vez maior de pessoas mais velhas, na sua quase totalidade, reformadas.

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Algumas pessoas começam a pensar logo que cada vez existem menos pessoas a descontar para a segurança social e cada vez mais pessoas a beneficiar dessas mesmas contribuições. Se pensarmos que nos últimos 150 anos a criação de riqueza, por pessoa, aumentou a um ritmo mais ou menos constante, e superior ao aumento desta proporção de pessoas mais velhas, podemos desde já desmistificar essa parte da questão.

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A solidão de quem não vive sozinho.

Photo by Huy Phan on Unsplash


Quando pensamos nas questões de solidão, vêm-nos logo à cabeça as pessoas que vivem sozinhas. Existem planos de acompanhamento das pessoas em situação de solidão, como é o (bom) exemplo dos programas da Polícia e da Guarda de acompanhamento das pessoas que vivem sozinhas. É normal relacionarem-se estas duas coisas, viver sozinho e sentir solidão.
Mas, quando começamos a aprofundar o tema, percebemos, antes de mais, que conhecemos todos nós, pessoas que vivem sozinhas e que não sentem solidão, de todo. Aliás, algumas preferem mesmo o sossego de viver sozinho do que a confusão da companhia permanente. Aqueles programas são, como é suposto serem, dedicados às questões de segurança, e, neste sentido, a questão de se viver sozinho e/ou isolado, parece ser, no mínimo, pertinente. As pessoas que, principalmente quando são mais velhas e com menos destreza, vivem sozinhas, precisam de se sentir protegidas e, assim sendo, estes programas são o que devem ser, caso assim atuem – e prefiro pensar que assim o são.

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Temos receio de falar nos maus tratos a idosos?

De certeza que todos, traços gerais, condenamos todos os tipos de violência contra pessoas e animais, parece um dado mais ou menos adquirido. Que bom que se fala cada vez mais, quão importante é, para a evolução de uma sociedade e comunidade, estes assuntos serem debatidos, apresentados.

Fica estranho é parecer que uma parte das pessoas fica de fora destas conversas, debates, as pessoas mais velhas. Cá e lá vamos vendo uma ou outra reportagem a expor situações delicadas (para ser simpático), e poucas vezes sabemos qual terá sido o desfecho daquela situação.

Parece que falar do modo como estas pessoas, aquelas que estão mais dependentes e fragilizadas por essa perda de autonomia, são tratadas, parece ser, simplesmente, tabu.

São as pessoas que nos criaram, que criaram os nossos amigos, professores, polícias e militares. São as mães e os pais, as avós e os avôs, da sociedade onde vivemos. E é a estes que viramos mais a cara para o lado?

Vemos mais discussões, mais ações e contributos para que os animais sejam bem tratados ou até ações contra o abate de árvores nos centros urbanos, do que vemos no caso dos maus tratos com idosos. Mesmo para os que gostamos muito de ter árvores e bicheza, de todo o tipo e com bom trato à nossa volta, é pelo menos estranho que isto assim seja.

As pessoas deviam desejar ir para um lar.

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Sabemos envelhecer?

Sabemos envelhecer?

Nas questões de um território, as pessoas são, ou deveriam ser, a base da definição de ações e desenho de estratégias. O que é uma aldeia, vila, ou cidade, se de lá tirarem as pessoas? Não me farto de repetir esta frase.

Então, mais ainda a saber que as populações estão a ficar com menos jovens, mais pessoas reformadas, não deveríamos, enquanto parte de uma sociedade, olhar para as questões relacionadas com as pessoas mais velhas, e com o seu papel no nosso território?
Antes de fazer a pergunta, se sabemos nós próprios, envelhecer, impera perguntar se, mais uma vez, enquanto sociedade, sabemos tratar das pessoas mais velhas.

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Parece que ninguém chega a velho!

(Publicado na página fb “Crónicas de um homem comum” de 11/09/2018. Da rubrica “Aos olhos de um homem comum” do jornal “O Ilhavense” de 30/08/2018)

Aos olhos de um homem comum

Parece que nunca vamos envelhecer, a julgar pelo modo como tratamos as pessoas mais velhas, ironicamente, curiosamente, desrespeitosamente e principalmente, se forem pessoas com menos capacidade de serem, agirem e sentirem-se independentes.
Este ano já foram encerrados 56 lares de idosos. No ano passado foram encerrados 133! Na maior parte dos casos por terem más condições de higiene e segurança. Se sabemos que existem poucos lares, que a oferta é demasiado escassa para a procura, e se, por isso, se tapa os olhos a tanta coisa, já que, “os lares ilegais são necessários para ajudar a atender à necessidade”, nem quero imaginar o estado desses lares para terem sido fechados. E esta coisa repete-se desde… sempre!
Que mundo é este que parece que ninguém vai chegar a velho? Pela forma como a nossa sociedade trata a população com mais idade, ou desses, aqueles que ficam mais desprotegidos, quer pela sua situação de saúde, ou seja pela sua situação financeira, ou mesmo pelo desprezo dos seus mais próximos, parece que ninguém chega lá.

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