Temos de ter vergonha de falar em valores?

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Agora discute-se (para ser brando no verbo) se a Direita é melhor do que a Esquerda e vice-versa, e acho que a maior parte das pessoas nem sabe bem o que significa uma coisa e a outra.

Nem vou falar do tom em que as conversas agora são mantidas, já escrevi lá atrás alguma coisa acerca disso – “a cultura do insulto”.

Nem vale a pena bater mais nesse ceguinho desta nova”cultura do insulto”, não porque já se tenha resolvido a questão, mais longe disso é quase impossível, mas porque aqui já foi abordado o assunto, por um lado, e, por outro, é tempo desperdiçado – a rapaziada anda mesmo ao rubro, quanto mais alto se berra e mais forte se insulta, melhor o efeito alcançado.

Mas vale a pena falar então, não do tom das conversas desse tipo, mas do conteúdo.

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Olhamos para esta coisa da Direita e da Esquerda, e se perguntarmos a 100 pessoas o que significa ser de Direita ou ser de Esquerda, as respostas vão ser iguais a quando se pergunta na rua o que se celebra no dia 5 de Outubro, ou o 25 de Abril, o 10 de Junho, ou uma qualquer data que é celebrada todos os anos e que deviam ser do conhecimento geral – se perguntarmos rápido, nem o que se celebra no dia 25 de Dezembro devem saber responder. Saem as respostas mais estapafúrdias, numa grande parte dessas pessoas, tenho a certeza. Já ouvi respostas a esta questão, a diferença entre ideologias de Direita e de Esquerda, quando há respostas, tão bizarras como se me dissessem que existem sereias e duendes a sério. Aliás, ao pé do que pensam algumas pessoas acerca das ideologias de Direita e de Esquerda, acreditar em duendes, fadas, Pai Natal e coelhinho da Páscoa, parece muito sóbrio!

Mas discutem-se os argumentos mais pobres, como se de futebol se estivesse a falar, depois de meia grade de minis por pessoa, e a meio de um jogo daqueles que deviam ter bolinha vermelha no canto.E isso tudo é que parece muito sério. Fala-se de peito feito, como se agora todos fossem donos da verdade.

Se alguém chegar e disser, mas afinal que tipo de valores é que aquelas pessoas defendem? Que tipo de pessoas, com que valores humanos pessoais fazem parte desse projeto político, social, cívico? São pessoas verdadeiras, justas, sérias.. Bem, mais vale fugir sem terminar as perguntas porque metade das pessoas já vai estar a pensar que essa pessoa é algum fundamentalista de alguma religião, e a outra metade já está a dizer qual é a religião e tudo. E todos já estão a olhar como se essa pessoa tivesse caído da Idade Média, ou pronto, que tivesse saído diretamente de há 60 anos atrás.

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Não devíamos ter vergonha de falar de valores, perguntar quais os valores que alguém defende e pratica, devia ser a maneira de começar a definir em quem devíamos confiar os nossos destinos. Ou não.

Em vez de discutirmos tanto que os “vermelhos” quer dar tudo a quem não merece nada, e do outro lado, que os “exploradores fascistas” querem roubar os pobres até à miséria total, podíamos tentar perceber que tipo de pessoas são as que fazem parte de cada projeto político, cívico, social, entre mais. E que valores perseguem, defendem, aplicam.

Ou não queremos nem saber, o que infelizmente está a aumentar, e a culpa não é de quem perde o interesse, ou se até queremos saber, não devíamos ter vergonha de querer saber com que tipo de pessoas estamos a lidar, em que tipo de pessoas vamos confiar destinos de coisas importantes e mais importante ainda, das pessoas.

Eu lá quero saber se alguém que se está a candidatar para um cargo que vai ter influência direta nas nossas vidas é de esquerda ou direita, numa altura em que nem se entende bem o que isso significa? Gostava mesmo muito era de saber se é uma pessoa verdadeira ou mentirosa, se faz o que promete ou promete sem seriedade?

Queria mesmo era poder discutir que tipo de valores hoje queremos para que a nossa sociedade de amanhã.

Era bom poder referir o termo “valores” sem parecer que saímos de uma cerimónia religiosa qualquer, daquelas mesmo muito fundamentalistas e fanáticas.

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Discutir valores das pessoas, o que lhes dá Humanidade ou não, mais ainda quando essas pessoas podem vir a ter poder de decidir coisas relevantes, devia ser a base dos debates. Em vez de se discutir coisas que ninguém entende, e com uma moral como se todos fossem economistas, matemáticos estatísticos, e muito mais.

Ainda por cima, os valores entendemos bem, e conseguimos interpretar que tipo de pessoa é, ao conhecer que valores defende e aplica na sua vida, pessoal e profissional, é bem mais simples do que fazermos de conta que entendemos coisas que na verdade são quase impossíveis para entender, mesmo que tenhamos a inteligência do Einstein.

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É uma pessoa séria? Costuma tratar bem e com respeito as outras pessoas? Cumpre as coisas a que se propõe? Defende a Justiça entre as pessoas ou defende algumas pessoas da Justiça?

Estas perguntas, bem mais simples, devem conseguir dizer-nos bem mais do que saber se alguém, individual ou grupo, é de Esquerda ou de Direita!

E não devemos nem podemos ter vergonha de querer saber e falar disso. Dos Valores!

Tiago Manuel

2 comentários em “Temos de ter vergonha de falar em valores?”

  1. Não podia concordar mais!!!
    Era altura de alguém dizer isto!
    Pessoalmente nunca consegui identificar-me com uma linha partidária. Consigo ver-me a apoiar propostas do Chega ao Bloco de Esquerda, desde que sejam a favor da decência e da humanidade, assim como abomino outras ideias com a mesma proveniência. No total, de direita, esquerda ou centro, estamos é todos fartos dos que vão para a política para se servirem, em vez de para servirem.

  2. Bom dia Maria Filipa. É verdade que vemos demasiadas pessoas a servirem-se da política, e não só da política. Faz-se muita “ação social” e “programas/projetos cívicos” que são mais para satisfazer intenções pessoais do que necessidades coletivas. A política deveria ser um ato nobre, mas como alguém disse um dia, “faz política quem não sabe fazer mais nada”. Ainda bem, por outro lado, que também vemos muitas pessoas a fazerem e tomarem ações de verdadeira utilidade. Se calhar temos de valorizar mais estas últimas e deixar de acompanhar e seguir o resto. Uma boa semana Maria Filipa, beijinhos!

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