As questões da urbanidade e da ruralidade. As pessoas e os espaços, as vidas em comunidade. O nosso território, o modo como o vemos e o vivemos. Os lugares, caminhos, aldeias e outros recantos. Reconhecer o valor das pessoas mais experientes.
As pessoas e os lugares. Por esta ordem.
Agora discute-se (para ser brando no verbo) se a Direita é melhor do que a Esquerda e vice-versa, e acho que a maior parte das pessoas nem sabe bem o que significa uma coisa e a outra.
Nem vou falar do tom em que as conversas agora são mantidas, já escrevi lá atrás alguma coisa acerca disso – “a cultura do insulto”.
Nem vale a pena bater mais nesse
ceguinho desta nova”cultura do insulto”, não porque já se tenha
resolvido a questão, mais longe disso é quase impossível, mas
porque aqui já foi abordado o assunto, por um lado, e, por outro, é
tempo desperdiçado – a rapaziada anda mesmo ao rubro, quanto mais
alto se berra e mais forte se insulta, melhor o efeito alcançado.
Mas vale a pena falar então, não do
tom das conversas desse tipo, mas do conteúdo.
Numa crise, quanto maior a cidade onde vivemos, mais sozinhos podemos ficar, e maiores dificuldades podemos sentir. Em alturas de dificuldades as cidades mostram algumas debilidades, quanto maior for a sua dimensão. Já é natural ver mais pessoas sem abrigo, pessoas de mais idade semi abandonadas ou mesmo abandonadas, desprotegidas. Pelo contrário, nos sítios mais pequenos, as pessoas, no pior mas também no melhor, conhecem-se, preocupam-se. Um pouco mais pelo menos. E existem certos pormenores que, em cidades maiores são diferentes de localidades mais pequenas, com ligações mais “ruralizadas”. Localidades, vilas ou mesmo cidades, que mantêm, quer na sua proximidade, quer no seu redor próximo, quintais e quintinhas a funcionar – nem urbano nem rural, chamado de peri-urbano, na verdade uma grande parcela do nosso território. Onde uma parte significativa das pessoas cultiva a sua hortinha (ou tem um vizinho que o faça), tira os seus ovos frescos pela manhã, faz sumo de laranja com as laranjas apanhadas uns minutos antes. São sempre, e mais agora, uns privilegiados, todos que podem ter este dia a dia. Já os que vivem em cidades grandes, além de não poderem, mesmo em alturas de abundância, terem estes pequenos grandes privilégios, ainda têm, em alturas de mais carência (real ou especulativa), de passar por outro tipo de dificuldades. Ovos, laranjas, batatas, couves, são necessárias todos os dias na mesma, mas exigem filas intermináveis e corre-se o risco de encontrar prateleiras vazias. Podem ter bebés para fazer uma sopa ou podem ser pessoas de alguma idade para quem já ir a um supermercado já pode ser difícil, quanto mais ter de voltar para casa sem nada porque as prateleiras estavam vazias.
Espigueiros, também conhecido por canastro ou caniço, serviram para se guardarem e protegerem os cereais, durante tempos seculares ou mesmo milenares, essencialmente no norte de Portugal e na Galiza.
Servem, no caso do que aqui mostramos, para guardar milho, deixando-o protegido de animais (roedores, essencialmente) e arejado, para secar e não apodrecer no Inverno.
Também se podem encontrar estruturas deste tipo em outros locais do norte e centro de Espanha (hórreo) e mesmo nos países escandinavos (stabbur, ou härbre), razão pela qual algumas pessoas dizem terem sido os visigodos quem trouxe para cá os espigueiros.
Esta semana uma senhora disse-me que
andava à procura de uma caixa de máscaras descartáveis, e após
percorrer todas as farmácias que conhecia, percebeu que estavam
esgotadas, pelo menos em todas essas mesmas farmácias. Esta senhora
precisa com frequência, e costuma comprar.
Nesta mesma semana, um ou dois dias
antes, ouvi alguém dizer, mesmo ao meu lado, que conheciam um casal
de senhores com alguma idade que, preocupados, já tinham em casa,
quer ele, quer ela, várias caixas de máscaras descartáveis, e que
mal pudessem, compravam mais.
Estas avalanches de medos e receios
que, volta e meia aparecem, com mais ou menos razões, têm o condão
de esvaziar prateleiras, de esgotar stocks, e, claro, de vender
notícias.
Foi assim há uns tempos com os
combustíveis, foi assim há uns anos com a gripe das aves, dos
porcos, e não me devo conseguir lembrar dos animais todos. Ou
melhor, das doenças, problemas, questões que põem tudo em
alvoroço.
Este sítio simpático, faz parte do
concelho de Tondela, mas foi durante séculos sede de concelho
próprio, até 1855.
A referência mais antiga deste local
remete-nos ao tempo do nosso querido primeiro Rei, o cachopo do mau
feitio, o Dom Afonso Henriques – naquela altura doada a um monge.
Quando estamos em viagem,o tempo é
contado, temos de cumprir horários, temos pouco tempo para todas as
tarefas e viagens, caso estas sejam necessárias. Assim, temos a
graça de ter disponíveis, as autoestradas, que nos permitem deixar
a partida em direção à chegada e passado um bocadinho já lá
estamos. Quanto o tempo é escasso, e isto hoje é o mais habitual,
então agradecemos a existência das ditas. Como que um
tele-transporte. Sim, como se entrássemos num sítio e passado um
bocadinho já estão percorridos 100, 200, 300 quilómetros, ou mais.
Nem nos apercebemos do caminho, e nem é esse o objetivo, o objetivo
é mesmo chegar com rapidez e segurança ao destino.
Além da notícia da ordem, o sermos ou não racistas, sermos ou não permissivos com quem o é ao nosso lado, começo por referir uma notícia que ouvi hoje no rádio. Um senhor faleceu numas urgências de um hospital, sem que naquele caso isso parecesse precisar de ter acontecido. A maior parte dos profissionais de saúde são maus? Claro que não, mas há-os. E basta um aparecer no meio de várias dezenas para fazer estrago suficiente e deixar uma ideia que aquela classe, toda ela, está repleta de maus profissionais. Mais ainda gostando de generalizar como nós gostamos. “Fui atendido por duas dúzias de profissionais de saúde, e pelo meio houve um desses profissionais que estava mal disposto e me tratou mal.” Esse “mau trato” fica bem mais gravado na memória do que todos os bons tratos que houveram entretanto.
Funciona igual com aquele mecânico que nos disse que tinha
trocado os filtros do óleo e na vez seguinte, em que por acaso vamos a outro
mecânico fazer a mesma coisa, nos mostra que os filtros nunca foram trocados, e
nos mostra os filtros ainda com a marca original do carro – nunca tinham sido
trocados. Os mecânicos são todos trafulhas? Claro que não, mas há-os. E mesmo
sendo poucos, fazem estragos suficientes para que se fale mal de todos, por
igual. Injusto? Claro que sim!
Podemos fazer, alguns de nós, um filtro e entender que a
exceção apenas confirma a regra, e devemos perceber bem essa diferença. Apesar
de que, com a cabeça quente, depois de um mau trato, seja ele qual for, venha
de onde vier, ter reações menos certas também deveria ser compreendido.
Como a questão do racismo, das provocações, e a palermice de
ligar uma coisa com outra. Uma pessoa anda com um colar de ouro na rua. Vai de
férias e é assaltada, levam o colar de ouro. Claro que a culpa é sua, não tinha
nada quer andar a provocar as pessoas a exibir ouro nem muito menos tinha de ir
de férias, grandessíssimo provocador!
Lixo importado? Produzimos assim tão pouco ou temos assim
tanto espaço?
Sem olhar a números, ou pelo menos, antes disso, basta
pensar um bocadinho e percebemos que porcaria já nós fazemos que chegue.
Lidarmos com a porcaria que fazemos já não é tarefa fácil, ainda temos de importar
mais porcaria de fora?
Importar lixo parece de muito pouco bom senso, antes de
mais. Todos os países estão a aumentar a produção de resíduos, conforme se vão
desenvolvendo. Isto é referido de muitas maneiras, quase todos os dias. Mas dos
negócios internacionais de importações e exportações de lixos nada ou quase
nada se fala. Nem vou aqui referir muito as questões ambientais inerentes a
esta questão. São demasiado óbvias! Até porque existem coisas que partem do
nosso senso comum. Ou deviam.
O espaço é limitado em todos os países. A capacidade humana
para fazer porcaria não tem limites! Importar lixo na verdade é uma venda de
espaço, este, finito.
O que são as cidades sem pessoas? Cidades, vilas ou aldeias. Será que, se de lá tirarmos as pessoas, o continuam a ser? Claro que também podemos ver isto ao contrário, as pessoas precisam de sítios para viver, para ir ao médico, para socializar, trabalhar, enfim, para viver. Precisam de algum tipo de urbanidade, mesmo aqueles que se escapam para o Alasca em busca das suas raízes mais primárias, vivendo com muito poucas condições “modernas”. Mesmo estes têm de levar consigo muitas coisas da nossa urbanidade consigo, e volta e meia, quando dá uma “moeca” forte qualquer, lá vão, tão depressa quanto possível, ao médico mais próximo, mesmo que a centenas ou milhares de quilometros. Sabemos portanto que precisamos de urbanidade, mais, menos, com as condições possíveis.