O que são as cidades sem pessoas?

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O que são as cidades sem pessoas?
Cidades, vilas ou aldeias. Será que, se de lá tirarmos as pessoas, o continuam a ser?
Claro que também podemos ver isto ao contrário, as pessoas precisam de sítios para viver, para ir ao médico, para socializar, trabalhar, enfim, para viver. Precisam de algum tipo de urbanidade, mesmo aqueles que se escapam para o Alasca em busca das suas raízes mais primárias, vivendo com muito poucas condições “modernas”. Mesmo estes têm de levar consigo muitas coisas da nossa urbanidade consigo, e volta e meia, quando dá uma “moeca” forte qualquer, lá vão, tão depressa quanto possível, ao médico mais próximo, mesmo que a centenas ou milhares de quilometros.
Sabemos portanto que precisamos de urbanidade, mais, menos, com as condições possíveis.

E, voltando ao início, como funciona ao contrário?
Vamos imaginar uma cidade grande europeia, cheia de luzes, de movimento, de vida. De um momento para o outro desapareciam as pessoas todas. Essa cidade, tão cheia de carros, de edifícios com funções das mais variadas, mas que de repente ficava sem ninguém, poderia ser na mesma considerada uma cidade? Deixava de haver movimento, deixava de haver vida, se calhar então, também deixava de ser cidade.
A uma escala diferente, quando passeamos pelas nossas aldeias portuguesas, abandonadas, semi abandonadas, ou já pouco ocupadas, com as memórias de quem (ainda) consegue contar na primeira pessoa como era aquele local quando tinha “Vida”, percebemos que aquelas aldeias, já só o são (quase) de nome. Deixaram de ter vida, são locais bonitos de ver, mas um par de montanhas, um pôr do sol na praia, ou uma outra paisagem qualquer, também são bonitos de ver e nem são aldeias, nem vilas, nem cidades.
Parece que o número de pessoas pode ter influência, principalmente quando elas desaparecem. Sem pessoas, uma aldeia passa a ser parte de uma paisagem natural, como se também o fosse. “É um sítio bonito para visitar e apreciar”. E para viver, seria? Pois, o pessoal gosta de sossego mas há limites…
São as pessoas que fazem de um local o que é, uma vila, uma aldeia, uma cidade. Uma das maiores cidades do Mundo é Lagos, Nigéria. Também é considerado o maior bairro de lata do Mundo. Será que apenas o facto de ali se juntarem milhões de pessoas fazem daquele local uma “cidade grande”?
A urbanidade são muitas coisas, e são essas coisas, equipamentos, atividades, enfim, condições de vida agradável, útil, inclusiva, eficiente, que tornam, junto com as pessoas que dão vida a isso tudo, um local digno de se viver. Ou não.
Uma cidade sem pessoas não é nada que nome tenha, tirando “cidade fantasma”. Acresce a isso o facto de que as pessoas daqui não são iguais às pessoas de outro local, mais ainda se for de outro continente.
Se as pessoas definem uma cidade, uma vila ou uma aldeia, então o tipo de edifícios, atividades, programas e afins, deviam ser geridos, construídos, adaptados se necessário, ao tipo de pessoas que lá vivem. Parece-me assim.
Uma cidade com dois terços da população estudante, por exemplo, será com toda a certeza uma cidade diferente do que seria se fosse habitada por pessoas mais velhas, apenas. Então, estas duas cidades, poderiam ser planeadas, construídas, adaptadas de igual modo? Parece certo que não.
Uma aldeia é igual. Uma aldeia que está a ser requalificada, reutilizada por pessoas de 20 ou 30 anos, não será igual a uma aldeia onde já só vivem meia dúzia de pessoas de mais idade, de modo igual ao que essa aldeia conheceu durante gerações.
Assim, as nossas cidades, vilas e aldeias, podem e devem ser geridas, construídas, planeadas, tendo em conta as pessoas que lá vivem, que tipo de pessoas, que idades prevalecem, que tipo de cultura. Não se deveria pensar a urbanidade aqui de igual modo ao que se pensa noutro continente, com e para pessoas completamente diferentes.
E já agora, não devia ser difícil pensar as coisas tendo em conta como serão esses locais, em termos demográficos, passados uns anos. Já se inventaram “previsões” e “projeções” há uns tempos, mais ou menos ao mesmo tempo que se inventou o bom senso! Saber para que pessoas se fazem as coisas deveria ser senso comum!
Deveríamos começar a conseguir evitar construir as coisas, ou requalificar as coisas, em cidades vilas e aldeias, como se não fosse para lá viver ninguém, ou como se fosse indiferente que tipo de pessoas lá pretendem vir a viver, ou vivem de facto.
Porque afinal, o que são cidades, vilas e aldeias, se de lá tirarmos as pessoas?
Tiago Manuel

4 comentários em “O que são as cidades sem pessoas?”

  1. Obrigado Erika! Já espreitei e vou ver mais coisas do artista, com atenção! Beijinhos e boa semana!

  2. Tiago. Nunca este artigo foi tão actual. Quem poderia sonhar nas cidades do mundo sem pessoas? Pois é o que está a acontecer…

  3. Tal e qual caro amigo.. É mesmo o que está a acontecer, como que fosse para nos mostrar isto tudo! Abraço e boa Páscoa para todos!!

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